quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O SERINGUEIRO E O PANEMA.........

Os mistérios da floresta vêm sendo estudados há centenas de anos por pesquisadores, estudiosos, mas de longe, muito longe, estão difíceis de serem decifrados seus enigmas. Entre eles está o panema, cujo sintoma está mais para uma maldição na vida de seringueiros que caçam e pescam para alimentar as famílias. Panema é uma palavra de origem tupi para coisa ruim. Os sintomas são falta de ânimo, azar, má pontaria, cansaço, preguiça. Para evitar o panema o seringueiro deve tomar uma série de cuidados.

Para evitar que um caçador pegue o terrível panema, as mulheres não podem pegar nas armas de caça nem varrer a casa, quando o caçador vai sair para caçar. Quando estão grávidas ou menstruadas são tidas também como panema. Todos os preconceitos se originam do mito de que a caça é uma atividade masculina. Mulher pescar menstruada nem pensar. Dizem que quando pescam menstruadas atraem o boto que fica rodeando o barco e algumas vezes chegando a alagá-lo.

Muitos caçadores entram na mata imitando o animal que querem caçar e para tanto usam técnicas especiais para que não sejam percebidos por suas presas. Eles sabem que estão sujeitos a vários ataques de animais ferozes na forma de acidentes naturais e também na forma de ataques mágicos. Quando o caçador retorna para casa com o animal que matou para alimentar a família, é preciso todo um tratamento especial na transformação da carne em comida. Caso o animal seja tratado por uma mulher grávida ou menstruada, o caçador pega o panema. O tratamento desse problema é mais difícil do que se imagina.

Muitos seringueiros com panema colocam o sumo de uma folha chamada churrô nos olhos para enxergar melhor na mata e acertar a caça. O cipó do churrô também pode ser usado para fazer defumação, usando o tipi (planta) e pêlos de porco, veado, anta e outras caças. Misturam tudo, colocam pimenta e fazem uma fogueira. O caçador, seus instrumentos e o cão de caça permanecem por longo tempo na fumaça. Além da defumação, para tirar panema, usam o pião roxo. Com ele a mulher bate no homem, proporcionando-lhe mais sorte na caçada.


O homem da mata também usa a urtiga (folha) e a formiga tucandeira para acabar com o panema. A urtiga é aplicada nos braços dos homens antes de sair para a caçada. No caso da tucandeira, a formiga serve para um teste. Se o caçador que for picado não sonhar com o sucesso na caçada seguinte está com panema.

Existe ainda o tratamento do panema com tiros. O caçador ao encontrar na mata uma espécie de palmeira chamada paxiúba, deve observar se ela está barriguda, isto é, esteticamente ela apresenta uma saliência muito parecida com uma mulher grávida. Ele deve dar um tiro na barriga da palmeira. Esse método, entretanto, tem conseqüência: se o responsável pelo panema do caçador for uma mulher grávida, com certeza ela sofrerá aborto. É preciso muito cuidado.

Índios da Amazônia também reconhecem o panema. Para acabar com o problema os indígenas usam a secreção de uma rã conhecida por eles como sapo Kambô, considerado um animal mágico da floresta. Além do panema, a secreção do Kambô é utilizada também no combate à preguiça, mal-estar, úlceras, tuberculose e outras doenças.

Pelo sim, pelo não, panema não existe somente na floresta, está presente também nas selvas de pedra. Só que o tratamento, no considerado mundo civilizado, é outro, bem diferente.


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